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A ação decorre com normalidade até ser interrompida com desabafos das personagens. De repente, estamos diante de um confessionário como acontece nos "reality shows"? Parece, sim, assistir-se à penetração do género documentário no humor.

Tudo isto acontece em “Modern family” - série com Sofia Vergara, actriz colombiana que se popularizou graças a este trabalho - uma das fortes candidatas a um Emmy, os mais prestigiados prémios de televisão, que se realizam este ano no último domingo de Agosto, na categoria comédia.

Curiosmente, as séries “The Office”, na sua versão norte-americana, e “Larry David”, igualmente formatos exploradores destas coordenadas, estão também entre os nomeados.

Que os géneros televisivos perderam a pureza tradicional, os espectadores já se habituaram, mas nas novas designações, deve agora ter-se em conta os mockumentary. O termo junta “mock”, que significa burlesco, e a abordagem do documentário, com o objectivo de reforçar a espontaneidade da narrativa, veracidade ou realismo da história. Enquanto isso, a dimensão cómica sobressai, salta da acção, devido à naturalidade conseguida, mas também ao reflexo da imitação do que se passa com os gestos e acções diárias dos comuns dos mortais.

Marcos importantes do vingar do género na produção televisiva são, entre outros, “The Office”, a comédia britânica em registo de captação de imagem quase caseira, criada por Ricky Gervais.

Ao modelo original, note-se, sucedeu a versão norte-americana e, esta semana, o humorista revelou que o próximo “remake” se vai produzir na China. Canadá, Chile, França, Alemanha, Israel, entretanto, também decalcaram o guião e fizeram-no nos seus moldes, com os seus actores. O sucesso internacional pode medir-se, inclusive, pela distribuição alcançada: conquistou mais de 70 países. E em França, chegou a fazer-se o filme “Le Bureau”.

Há também quem chame aos “mockumentarys” falsos documentários ou pseudo-documentários. Os analistas da evolução dos géneros televisivos vêem neste passo apenas mais um na construção da narrativa televisiva, que, de qualquer modo, não é exclusiva deste meio.

No cinema, os filmes do inglês Sacha Baron Cohen, quer em “Borat” ou em “Bruno”, exploram esta linha. A popularidade dos filmes foi responsável por, pelo menos, colocar o género na moda. Levou as pessoas ao cinema, popularizou-o, tornou mais “mainstream”, certamente. Na história deste género no audiovisual, na visão académica, o formato irrompeu há décadas.

Um artigo publicado na revista “Post Script”, Gary Rhodes não só utilizava o termo como o explicava nestes termos: “mockumentaries - filmes feitos para parecerem documentários, apesar de serem ficção ou de terem o estatuto de parcialmente ficcionados - tornaram-se um dos mais entusiasmantes géneros cinematográficos criados no século XX”.

Para alguns estudiosos da matéria, foi o realizador italiano Federico Fellini quem inventou o mockumentary e explorou a fórmula em obras como “Oito e meio” (1963) e “I Clown” (1971).

Conteúdos: espreitar as novas famílias

A lufada de ar fresco na produção televisiva de 2010 conta além de “Glee”, ficção musical centrada nos dramas de jovens adolescentes, com “Modern family”. Como o nome indica, este produto propõe-se fazer um retrato do funcionamento de núcleos familiares contemporâneos, aqueles que são reformulados após divórcio, onde se incluem enteados, relações de parentesco menos convencionais, casamentos entre pessoas com um intervalo de idade de 30 anos ou entre gays, no caso, um par esforçado em fazer uma vida social corriqueira, tão normal quanto possível.

A árvore desta família ficcionada tem no topo a personagem Jay (Ed O’Neil). Na casa dos 60, Jay é casado com a vistosa Gloria (Sofia Vergara), na faixa dos 30, muitas vezes confundida com sua filha. Jay consegue surpreender, por exemplo, pela forma como consegue lidar com o enteado, um adolescente precoce.

As outras duas famílias resultam da vida escolhida pelos seus filhos: um deles gay e outro, a filha, membro de um clã aparentemente tradicional, embora a sua vida privada, marcada por peripécias bizarras, atraiçoem o rótulo de vidinha convencial. Apesar dos esforços, o pai Ty Brurrell não consegue manter uma ligação próxima com os filhos. O uso das novas tecnologias em casa merece uma atenção atenta e crítica.

O casal gay tem também a particularidade de juntar duas pessoas de personalidades vincadamente diferentes: um é discreto e outro extravagante. Mas a irreverência dos guionistas mostra também que por vezes são os gays os preconceituosos em relação à aceitação social.

A produção da 20th Century Fox Television, criada por Steven Levitan y Christopher Lloyd, autor de “Frasier” e “Golden girls (“Sarilhos com elas”), duas produções de sucesso - “Modern Family” - encanta sobretudo pelos pormenores simples do dia-a-dia ali expostos. A oferta de uma bicicleta a um filho e a ida a um encontro de pais na creche s foram ponto de partida a um dos episódios.

Nos Estados Unidos, as audiênciss superam os 10 milhões de pessoas. No próximo domingo, o seu nome será dito, pelo menos 14 vezes, tantas quanto as nomeações a que está candidata nos Emmy Awards.

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